Tive um sonho terrivel, mas felizmente tudo passou e acabou. Acordei e parecia que tinha acordado num mundo novo. O meu quarto, que desde que me recordo, era branco, moveis brancos, paredes brancas, cadeiras brancas, tudo que que lá havia era branco, mas nessa manhã quando acordei tudo tinha uma cor diferente. Havia todas as cores, desde o verde ao cor-de-rosa, do azul ao vermelho. Achei tudo um pouco estranho claro, mas calculei que ainda tivesse a dormir e que tudo isto fazia parte de um sonho. Levantei-me, não estava ninguém em casa, mãe, pai, irmão, irmã, ninguém. Tomei o meu pequeno almoço, tudo estava diferente mas ao mesmo tempo igual, ou seja, a casa estava toda igual mas pairava no ar uma alegria que raramente estava presente. Senti-me bem com aquele ambiente, liguei o radio, pus musica aos altos berros, soltei-me, já que havia aquele ambiente em casa eu também tinha que fazer parte dele, cantei, dancei, senti-me tão bem. Voltei ao meu novo e colorido quarto, não estava habituada a todas aquelas cores, mas não me incomodavam, abri o armário e vesti a roupa mais alegre que lá existira. Sai de casa, tudo na rua me fazia sorrir, sorria para todos, estava tudo tão alegre, tão diferente do que era, portanto é de aproveitar. Decidi pôr-me num autocarro e ir para algum lado, lado esse cujo destino não me era conhecido. Sai na paragem que mais alegria me trouxe. Fui para um jardim, deitei-me na relva, relaxei um pouco. Passado poucos minutos, um alguém deitou-se ao meu lado. Um rapaz com uma idade perto da minha, moreno, olhos claros, estatura média. Não percebi muito bem o porquê de sentar-se ali ao meu lado se havia tanto jardim por ali fora.
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| ALL DREAM COME TRUE |
-Desculpa se estou a estragar o teu relaxamento, mas se há tanto jardim porquê deitares-te mesmo ao meu lado? Não é que me estejas a incomodar - disse eu
-Olá, estavas ai deitada a relaxar e vi uma alegria diferente no teu rosto e achei que serias boa companhia para um bom relaxamento.
Não lhe disse mais nada, sorri para ele e voltei a deitar-me, apreciei as nuvens, o céu, o sol, estava tudo tão bom!
-Aquela nuvem parece com uma girafa, uma girafa bebé, não achas? - Disse-me ele, mostrando-me um sorriso até as orelhas.
-Sim, uma girafa bebé com orelhas de coelho - respondi-lhe rindo-me.
Ele suspirou, sorriu para mim, fechou os olhos e deitou-se. Ainda deitado, de olhos fechados perguntou-me:
-Então que fazes por aqui? És de onde? Adoro os teus olhos e o teu sorriso, deve ser de familia provavelmente.
Senti que se aproximou demais com todas estas perguntas, levantei-me e andei, um andar rápido, não queria nem que ele viesse atrás de mim nem que se tivesse sequer apercebido que me tinha ido embora. Mas fiz barulho de mais para variar, odeio ser tão desastrada! Ele correu atrás de mim, tentando que eu parasse.
-Não vás! - Gitou ele conseguindo agarrar a minha mão.
-Desculpa se exagerei nas perguntas, mas não sou o maior apreciador do silêncio, bem isto não é desculpa, devia ter-te perguntado quais os teus legumes preferidos, se gostas de soupa ou se preferes salada ou um bom hamburger, bem... desculpa.
Não resisti, ri tão alto com este pedido de desculpas, o dia estava a correr tão bem, mas com este pedido de desculpas ficou ainda melhor!
Não resisti, ri tão alto com este pedido de desculpas, o dia estava a correr tão bem, mas com este pedido de desculpas ficou ainda melhor!
-Estás desculpado e desculpa toda esta gargalhada - disse-lhe eu continuando-me a rir. Ele sorriu para mim, pousou a mão no ombro e perguntou:
-Queres ir dar uma volta? Estou a ficar um pouco cansado deste jardim.
Sorri com um enorme sorriso e abanei a cabeça. Dali, daquele jardim, apanhamos um autocarro para o meio de algures, não percebi para onde me levava, mas eu deixei-me levar. Depois de sairmos do autocarro, andamos por ruazinhas, estradas, subimos por entre uns caseirões, ele falou-me dele e eu falei-lhe de mim.
-Vou dizer-te uma coisa. Estes dias têm sido os melhores que tenho tido, sinto-me tão feliz mas não tenho motivos para isso, o meu mundo, que era um mundo preto e branco, um mundo infeliz, agora é tão colorido que nem encontro nada preto, sinto-me tão bem assim, mas gostava mesmo de saber como isto aconteceu, ou melhor porquê. Não queria que ele percebesse ou viesse até mesmo a saber que naquele dia se passava o mesmo comigo.
-Isso deve ser uma mudança na tua vida, seja o que for aproveita porque pode tudo acabar amanhã - respondi-lhe eu.
Ele sorriu, gritou um 'WOOOW', agarrou-me na mão e correu levando-me para o ponto mais alto daquelas ruas. Ao mesmo tempo que corriamos, cantávamos, saltávamos, gritávamos! Chegámos finalmente ao topo, a nossa respiração está forte de termos corrido, cantado e tudo isso.
-Costumava vir aqui quando me sentia triste, este lugar fazia-me pensar... trazia a minha guitarra e tudo parecia desaparecer mas agora com esta mudança, se assim lhe queres chamar, este lugar perdeu um pouco o interesse mas continua a crer a minha atenção - desabafou ele.
-É lindo, adoro este sitio, é colorido, diferente e alegre! - disse-lhe eu aproximando-me.
Cheguei-me mais perto dele, sorrimos um para o outro, ele pegou na guitarra, tocou um improviso e cantou algumas palavras, parecia tudo tão natural, o som da guitarra, o seu sorriso a sua voz, era tudo tão real. De repente, senti algo estranho no meu corpo, um impulso. Pelos vistos ele também sentiu o mesmo e deu ele o primeiro passo. Beijou-me...
-Desculpa isto não devia ter acontecido, desculpa a sério - disse ele querendo fugir. Ainda consegui agarrar a mão dele, puxando-o, roubando-lhe outro beijo. O último.
-Desculpa a sério, eu não posso desculpa! - dizia ele atrapalhado acelerando a passo.
-Mas... e o teu nome? Qual é? - gritei eu!
-Não sei, mudei lembraste? Quando o souber eu voltarei a aparecer. DESCULPA! - gritou, correu e desapareceu deixando só a sua guitarra.
Desci todas aquelas ruas e ruazinhas, mas mesmo assim a alegria não saiu de mim. Havia uma mancha negra agora, mas a alegria continuava lá. Já era tarde. Acelerei a minha corrida. Já era de noite quando cheguei a casa, despi-me, abri a minha nova cama e deitei-me. Quando acordei, hoje, já tudo voltou ao normal. O branco estava lá, o stress quando desci tinha voltado. As cores desapareceram, a alegria esmorenou-se, tudo do dia anterior desapereceu menos a lembrança do meu, nem sei o que ele era, talvez um amigo, talvez uma alma gémea e a sua guitarra era o que restava. Será que tudo isto não passou de um sonho, de pura imaginação? Se sim, como tenho eu a sua guitarra? Que confusão... Só espero que um dia venha pelo menos
a saber o nome, ou algo dele, espero até voltar a vê-lo. Até esse dia, continuarei a viver no preto e branco, como ele dizia. Vou esperar para acordar outro dia no mundo da mudança, mas desta vez para sempre!







